Residindo
em Lisboa, sendo alfacinha de gema, gosto muito, mas mesmo muito de
Tomar. Devido a este factor não racional, fico muito incomodado
quando se diz mal deste concelho. Costumo ler ou tentar ler e
consultar sites, rádios locais e imprensa regional. Numas
destas consultas, passei, como é hábito, pela Rádio Hertz, onde
pude ouvir 22m do que se passou numa das Jornadas de ReTomar 2017
(julgo serem assim o nome das jornadas). Ouvi declarações de três
individualidades, a saber: João Tenreiro, Duarte Marques e Jorge
Barreto Xavier.
Sendo
certo que mantenho relações de cordialidade e de amizade com
pessoas ligadas aos vários quadrantes políticos, o que aqui está
em causa são afirmações de teor político.
O
Dr. João Tenreiro fez considerandos políticos vários, que
considero normais, visto ser vereador de Tomar e estar em combate
político. Em suma, fez o que lhe competia e tudo o que faça em prol
do concelho de Tomar será sempre pouco. Tal premissa estende-se,
obviamente, a todos os sectores políticos nabantinos. É por isso,
perfeitamente normal que, dentro do trabalho político, tenha
conseguido trazer a Tomar o sr. Secretário de Estado da Cultura,
mesmo que com a ajuda do sr. deputado Duarte Marques.
A
intervenção do sr. Deputado deixou-me… nem sei como dizer, mas a
modo que… triste. Ia aplicar o étimo embaraçado, mas deixo-lhe a
ele, Dr. Duarte Marques, essa palavra.
Fiquei
triste com o uso da palavra embaraço porque o Dr. Duarte Marques
foi, como se lê nas entrelinhas, convidado a estar presente na
qualidade de deputado. Assim, e nessa qualidade, deve mais respeito
aos órgãos autárquicos eleitos livremente. Existem, de certeza
outras palavras para se referir à autarca de Tomar “...um embaraço
maior será a presidente da câmara actual...”. Se tem críticas a
fazer, deve fazê-las da maneira mais adequada e não falar em
público desta forma. A propósito, deverei chamar de embaraço a um
programa de governo que enquanto governo, parece desviar-se do
proposto?
O
sr. Deputado refere que Tomar era sinónimo de cultura, que se
mostrava e se “espalhava” pelos concelhos vizinhos, de Mação ao
Sardoal, de Abrantes a Ferreira do Zêzere. Mas fala no passado,
querendo com isso dizer que foi há muitos anos. Recordo-lhe que o
actual governo autárquico socialista tomou posse em finais de 2013,
mas, entre 1997 e 2013, o governo de Tomar pertenceu ao PSD. Está
lembrado?
Mas
já que tanto fala de património, onde estava o senhor deputado a
defender o alambor (2011), que foi parcialmente destruído? Onde
estava o sr. Deputado (na altura não era membro da Assembleia da
República) quando pedi a preservação in situ de
meia-dúzia de sepulturas (num total de 3400) em frente da Igreja de
Santa Maria do Olival? Qual foi a sua posição sobre o chamado forum
romano de Tomar que andou em bolandas durante 30 anos? Pois é…
Mas
gostei de o ouvir dizer “...que Tomar é uma cidade muito bonita,
que tem aquela marca distintiva com charme...”. Fica-lhe bem e é
uma realidade. Cá entre nós, olhe que Mação é uma bela terra. E
sei do que falo, pois também tenho raízes familiares nesse paraíso.
Mas voltemos a Tomar.
Mas,
sr. Deputado, “...se não fossem as pessoas que fazem cultura ou
que organizam a Festa dos Tabuleiros e outras organizações
semelhantes...”, Tomar seria de certeza diferente. Mas mais uma vez
lhe relembro que essa pessoas também faziam a Festa dos Tabuleiros
desde 1997 (autarquia PSD) e as outras organizações igualmente.
Repare na Nabantina, no Canto Firme, no Fatias de Cá, no Rancho de
Alviobeira ou no da Peralva. Tantas e tantas associações
culturais.Fazem por gosto, por paixão, por emoção, não fazem só
porque a câmara era do PSD e agora do PS. E, de certeza, tiveram e
têm razões de queixa dos políticos.
Achei
muito interessante as afirmações da Charola. Ela, a Charola, como
estava (a necessitar de obras), era um embaraço (lamentável nas
comparações ao nível de embaraço com a autarca de Tomar) naquele
estado. Tem razão. Mas quem o ouve fica a pensar que foi a acção
deste governo que, num ímpeto de protecção do património,
resolveu restaurá-la. E isso não corresponde à realidade, pois
não?
Comecei
a escrever em jornais em 1988. E na altura escrevi para chamar à
atenção que a abóbada continha pinturas (algo que já tinha sido
mencionado no início do séc. XX). Os primeiros andaimes foram
montados na Charola em 1988 ou 1989. Alguém de relevo na área da
cultura disse que 50.000 contos (250.000€) deveriam chegar para as
obras. Quando escrevi mencionei que nem 1 milhão de contos (5
milhões de euros) chegavam para as intervenções que se propunham
fazer na Charola e em vários locais do Convento. Eu tinha razão. As
obras começaram com avanços e recuos. Muito tempo para as pessoas
mas pouco para os técnicos do restauro que devem ir com pinças
esperando sempre o inesperado. A Cimpor ofereceu mecenaticamente 1,5
milhões de euros para o restauro que chegou, julgo, em duas grandes
fatias e envolta em alguma polémica no que concerne à segunda fase
do dinheiro. Por tudo isto, o Presidente da República foi convidado
para a inauguração de um restauro que, no tempo, atravessou vários
governos da nação e não foi este que fez tudo como se parece
depreender das palavras do sr. deputado Duarte Marques.
Tem
razão o sr. Deputado quando diz que não basta ter a Charola
arranjada. Tem que existir criatividade e estratégia para ligar este
monumento aos outros patrimónios desde o mundial ao nacional e aos
patrimónios locais. Sim, porque lá em baixo, na cidade também há
património e este está rodeado pelas pessoas e que são o
património mais belo de todos.
P.S.
- Da intervanção do Sr. Secretário de Estado da Cultura falaremos
já num próximo escrito.
Post-scriptum - O Paraíso é uma questão pessoal, mas um embaraço deste género não entra no meu paraíso.