segunda-feira, 26 de março de 2012

Os preços do vinho e das farinhas


Mais uma bela imagem d'A Paródia onde retrata os problemas havidos com as farinhas que determinaram o aumento enorme e até a falsificação das farinhas. Ao invés o vinho estava a render pouco. E isto num país onde até há poucos anos beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. Nos nossos dias observe-se o preço do pão. Se há uns anos valentes um pão custava $50 centavos, hoje custa 18 cêntimos ou 36 escudos que o mesmo é dizer que com o dinheiro de um pão de hoje compravam-se, há mais de 25 anos 72 papo-secos.
Repare-se na beleza da própria imagem com a moldura humana à esquerda a servir de suporte à latada que se prolonga até ao moinho. Imagem terrível mas ao mesmo tempo bela no seu desenho. Neste último contexto O Paraíso é uma questão pessoal e é realmente uma imagem de deleite.

domingo, 25 de março de 2012

Que Paródia de Estado



Mais um número saborosíssimo de A Paródia, datado de 24/1/1900. A Finança é aqui representada como um grande cão, com as patas traseirasfrente aos Jerónimos e as patas dianteiras na outra banda, p'ra ali para Espinhaço de Cão. O canídeo olha para uma barrica, rebentada de onde emergem alusões aos selos, tabacos, fósforos, tarifas e impostos. Já naquele tempo o tabaco servia como fonte de financiamento (eu não fumo). Mas as tarifas e os impostos é que geravam o grosso das receitas (os bolos que se dava ao cão). Um comentário, incisivo, de Rafael Bordalo Pinheiro dizia que por mais bolos que lhe deitassem, o raio do cão não morria. Agora, 112 anos volvidos, estamos submergidos por taxas e impostos. Continuamos a dar bolos e o raio do cão não morre e, espanto dos espantos, até engorda.
O líder do PSD disse hoje no congresso do PSD que o facto de ficar registado na Lei de Enquadramento Orçamental, que não se pode ter um deficit superior a 3% faz com que no futuro quem quiser descer impostos tem que pensar onde irá cortar despesas do Estado. Por outras palavras, o que este e outros governos passaram a esbulhar, perdão, a cobrar, não é reversível. Veio para ficar. E o IVA estava a 17% no tempo da Ferreira Leite. mas quando isto estivesse melhor, dizia ela, tornava a descer. Vê-se e ouve-se. E o raio do cão que não morre. O Paraíso é uma questão pessoal e estes desenhos são um paraíso mas não consta dele nenhum cão.

Discursos de Primeiro-Ministro

Estava a ouvir o discurso do líder do PSD no Congresso enquanto saí com o meu pai à procura de mais graffiti para fotografar.
Acabado o discurso, passada a hora do almoço foi o mesmo interpelado pelos jornalistas. Uma das perguntas foi sobre a afirmação de António Seguro sobre ser Passos Coelho o primeiro-ministro mais insensível de sempre. A resposta foi que ele foi eleito para governar o País segundo o programa eleitoral que apresentara e que havia a necessidade de cumprir o acordo com a Troika. Mas não me lembro que no programa eleitoral venha a necessidade de causar miséria, fome e desemprego ou que o cumprir do acordo seja feito à custa das pessoas. Nada fizemos para causar esta crise nem directa nem indirectamente. Mas os políticos sabiam como isto estava. Um diz que dava recados, às vezes directos, outras vezes em reuniões com o então primeiro-ministro. Dado que O Paraíso é uma questão pessoal, este não é o meu paraíso.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Afirmações do Governo - A Terra do Nunca

A sério. Gosto destas afirmações bombásticas de um governo que provém de um partido que é culpado por esta situação de descalabro que se vive em Portugal. Olhei para a TSF e li a afirmação governamental de que não é com greves que se resolve a situação do País. Certo. Correcto. E será que é com estes políticos do PS, PSD e CDS que pululam no pós-25 de Abril que se resolvem os problemas do País?
É que devemos lembrar-mo-nos de que desde o 25 de Abril quem governou Portugal foi o PS, o PSD e o CDS, sozinhos ou coligados. Então quem são os culpados por toda esta situação? É preciso que nós respondamos?
Eu e a maioria dos portugueses não têm chorudas contas bancárias, nem acções, nem casas de férias, nem contas off-shore, nem investimentos. Mas têm que ter dinheiro ou inventá-lo para serem esbulhados por um Estado que se engordou e engordou os seus e que agora quer respirar à nossa conta.
Lembram-se do IVA? Em 2003, Ferreira Leite passou-o de 17 para 19% alegando que era temporário e que quando isto estivesse melhor iria descer. Viu-se.
Veio o governo Sócrates e o Iva subiu de 19 para 21%. Depois, durante seis meses, desceu para os 20%. Logo, logo, voltou a subir para os 21%.
Chegou o governo Passos Coelho e, novidade!!! Subiu o IVA de 21 para 23%. Será que ainda se lembram da ministra PSD que disse que quando estivesse melhor o IVA desceria de 19 para 17%. Todos os impostos que sobem já não descem. Há sempre um motivo qualquer.
É verdade, temos que repor a ordem se esta andar p'ra aí aos saltos. Pancada neles. É assim mesmo.
O Paraíso é uma questão pessoal e isto não se coaduna no meu paraíso. Parece ser mais o inferno. O inferno português.
(imagem - Olivier Rameau na Viagem para a Terra do Nunca com desenho de Dany)

A grande porca



Esta é uma imagem extremamente interessante e actual. Trata-se do número 1 da revista A Paródia que foi dada à estampa em 17 de Janeiro de 1900. Os irmãos Bordalo Pinheiro - Manuel e Rafael - estavam por detrás deste lançamento. O mais espantoso de tudo isto é a actualidade de muitos dos desenhos e caricaturas. Neste caso, uma série de leitões, identificados com as forças políticas da época estão a alimentar-se da grande porca. Daí a expressão ainda hoje válida, de que a política é uma grande porca. A semelhança com a actualidade é incrível. Para além disso, atente-se à suavidade e aplicação das cores nesta primeira página que, de resto, se irá reflectir numa série de outros números desta revista que, nesta série, durou até 1907. Ver a política com estes olhos é fantástico, para mais quando aconteceu há 112 anos. Assim sim, O Paraíso é uma questão pessoal.

sábado, 10 de março de 2012

Morreu Jean Giraud - Morreu Moebius

Nasceu em Nogent-sur-Marne em 8/5/1938 e o seu talento surge apenas com 15 anos de idade quando publica os seus primeiros desenhos.
Autor prolífico, que assinou boa parte de sua obra com o pseudônimo de Gir, Moebius trabalhou em algumas das revistas mais importantes da França, colaborou com desenhos para o cinema e ganhou fama com o género faroeste. Criador de um universo muito pessoal, o desenhador francês colaborou na criação dos personagens dos filmes 'Alien - O 8º Passageiro', de Ridley Scott; 'O Quinto Elemento', de Luc Besson; e 'O Segredo do Abismo', de James Cameron, entre outros. Sua atração pelo 'western' levou-o a criar, em colaboração com Jean-Michel Charlier, a saga 'Blueberry', que assinou com o pseudónimo de Gir e que lhe deu fama internacional. Com o passar dos anos, no final da década de 1960, o cartoonista deixou de lado o realismo da série faroeste para se consagrar com obras mais fantásticas, em um universo próprio muito relacionado à ficção científica criando O Inkal. Foi nesse momento em que adotou o pseudónimo de Moebius e quando começou uma prolífica colaboração com o cinema, que durou vários anos. Entre o realismo e a imaginação, Moebius teve tempo de desenhar a si mesmo, como mostra a série de álbuns que editou sobre sua própria vida sob o título 'Inside Moebius'. Giraud teve fortes vínculos com o México, onde viveu sua mãe e onde passou diversos períodos de sua vida, o que influenciou a sua visão do género 'western'. Nomeado Melhor Artista Gráfico da França nos anos 1990, Moebius tinha a condecoração das Artes e das Letras que recebeu do então presidente François Mitterrand em 1985. Muito admirado em seu país, realizou-se no ano passado em Paris uma grande exposição consagrada a sua obra. (com a devida vénia a www.exame.abril.com.br). O tenente Blueberry está desde há muito no meu imaginário. Obrigado Jean Giraud pois O Paraíso é uma questão pessoal e a tua obra faz parte do meu paraíso.